Tudo acaba em pizza
Uma das heranças gastronômicas que recebemos dos italianos é a pizza. Foram os italianos que aprimoraram e cuidaram de espalha-las pelo mundo, mas o hábito de comer um tipo de pão coberto com recheio começou muito antes.
Três séculos antes do nascimento de Cristo, os fenícios cobriam pães com carne e cebola. Esse pão chamado piscea, era parecido com o pão sírio, egípcios e outros povos antigos já fabricavam uma massa à base de água e farinha(de trigo, grão-de-bico ou arroz) e assavam em tijolos quentes.
Durante as Cruzadas, no século XI, o pão turco desembarcou no porto de Nápoles. Os italianos gostaram tanto da novidade que começaram a aprimorar a iguaria, utilizando farinha de trigo de boa qualidade e recheios como queijo e linguiça. No século XVI foi acrescentado o tomate, levado da América pelos espanhóis e incorporado à pizza, deixando-a mais ou menos como conhecemos.
A diferença é que a massa era dobrada ao meio para comer. O formato redondo só seria popularizado no século XX, para facilitar a vida de quem estica a massa e evitar desperdício, já que, no formato quadrado, as bordas tinham que ser aparadas.
Em 1889, um padeiro de Nápoles, Raffaele Espósito, fez uma homenagem à Rainha Margarida, esposa do rei italiano Humberto I, confeccionando uma pizza com ingredientes que lembravam as cores do país: tomate(vermelho), queijo(branco) e manjericão(verde). A Rainha adorou o prato. O padeiro tornou-se o primeiro pizzaiolo da História, batizou a pizza com o nome da homenageada. O nome pegou rápido e está até hoje no cardápio das pizzarias.
No Brasil, as pizzas chegaram com os imigrantes italianos e logo caíram no gosto da população. No começo do século XX, o napolitano Carmino Corvino oferecia em sua cantina no bairro do Brás, tradicional reduto de italianos em São Paulo, as famosas pizzas napolitanas, o que o torna um dos precursores das pizzarias na capital paulista. Corvino, conhecido como "dom Carmeniélo", também pode ter inaugurado o delivery, já que vendia as pizzas pelas ruas da região de sua cantina, em grandes latões e sempre quentinhas.
A expressão "Tudo acaba em pizza" não nasceu na política, e sim no esporte. Na década de 1960, dirigentes da Sociedade Esportiva Palmeiras iniciaram uma longa e acirrada discussão sobre a crise que a equipe atravessava. A reunião, que durou cerca de 14 horas, foi recheada de debates e discussões dos cartolas, que culpavam uns aos outros pela fase ruim do time.
A certa altura, sentiram fome e foram para uma cantina que ficava ao lado da sede do Palmeiras, na zona oeste de São Paulo. Depois de comerem mais de uma dezena de pizzas, tomarem muito vinho e chope, já tinham esquecido as brigas por causa do futebol.
O jornalista Milton Peruzzi , que trabalhava no jornal Gazeta Esportiva e acompanhou toda a tensa reunião e a posterior confraternização, escreveu a manchete no dia seguinte: "Crise no Palmeiras termina em pizza".
FONTE: Revista Aventuras na História
Espaço destinado a estudantes de história e interessados nessa ciência humana, considerada a mãe de todas as ciências, que desejam interagir compartilhando conhecimento e curiosidades acerca do nosso passado. Para entendermos nosso presente, é imprescindível conhecermos nosso passado.
quarta-feira, 25 de maio de 2016
quarta-feira, 18 de maio de 2016
A peruca e o fim do reino
Na mentalidade humana, cabelos bonitos, status e poder estão intimamente ligados. Por exemplo, desde os tempos mais remotos, os homens consideram cabelos ondulantes como sinal de divindade e realeza. No Egito, na Assíria e na Persa, o rei e seus cortesãos usavam perucas elaboradas nos eventos de Estado. Associações estreitas entre poder, virilidade e cabelos levaram os gregos e romanos antigos quase calvos a adotar perucas e apliques. Um ilustre usuário de peruca foi ninguém menos que Júlio César.
Com a queda do Império Romano do Ocidente, as perucas sumiram da história europeia por um milênio.
O uso ressurgiu no século XVI nas cortes reais do norte da Europa. A rainha Elizabeth I (na foto abaixo) da Inglaterra usava uma peruca vermelha bem anelada no estilo "romano" para substituir seus próprios cabelos brancos e ralos, e o rei Luís XIII da França usava uma peruca que ia até os ombros.
Na década de 1660, o rei Carlos II da Inglaterra, passou a adotar a peruca por ser mais fácil de mantê-la limpa e assim evitar o problema das pulgas. Mas, durante o reinado de Luís XIV na França (o Rei Sol;1638-1715), a peruca foi alçada a uma dimensão inédita, que em algumas gerações contribuiria para selar o destino da monarquia francesa.
Luís XIV mudou a corte da superlotada, suja e turbulenta Paris para a extraordinária Versalhes. Foi ali que o Rei Sol desenvolveu um complexo protocolo baseado na moda e na ostentação de riqueza. Sua intenção era impedir a sublevação entre a alta nobreza da França, mantendo os nobres por perto e ocupados, dissipando sua riqueza em luxos em vez de tramar sua derrubada. Não poderia ter sido mais bem-sucedido. Isolada do mundo, a elite francesa perdeu contato com a realidade durante os reinados do filho e do neto do Rei Sol: Luís XV e o malfadado Luís XVI.
No final do século XIX, as perucas masculinas foram reduzidas a um tamanho mais prático, com os característicos cachos do lado e o rabo de cavalo pra trás, e eram empoadas. Mas com a ascensão da rainha Maria Antonieta, que subiu ao trono com seu marido Luís XVI em 1775, as perucas tornaram-se estratosféricas.
Na nova rainha, nascida na Áustria, os estilistas, cabeleireiros, joalheiros e fabricantes de perucas de Paris encontraram um apetite pelo excesso, pelo luxo e pela novidade. A corte só percebeu tarde demais que seus excessos haviam alienado ainda mais a população francesa. Apesar de uma tentativa derradeira da rainha de moderar seu estilo, incluindo a peruca, o governo monárquico absolutista foi derrubado em 1789, e o casal real perdeu a cabeça na guilhotina em 1793. Apropriadamente, Maria Antonieta usava nos cabelos apenas uma simples touca.Na foto abaixo, podemos ver o gosto extravagante de Maria Antonieta.
As perucas associadas à ostentação do governo do Rei Sol, saíram de moda no século XIX. Sobreviveram apenas as do traje formal de juízes e advogados no sistema judiciário e no Parlamento britânico. Mesmo assim, muitos ingleses modernos espelharam-se nos dizeres do presidente Thomas Jefferson(1743-1826): "Pelo amor de Deus, desfaçam-se da peruca monstruosa que faz os juízes ingleses parecerem ratos espiando por trás de montes de estopa".
Com a queda do Império Romano do Ocidente, as perucas sumiram da história europeia por um milênio.
O uso ressurgiu no século XVI nas cortes reais do norte da Europa. A rainha Elizabeth I (na foto abaixo) da Inglaterra usava uma peruca vermelha bem anelada no estilo "romano" para substituir seus próprios cabelos brancos e ralos, e o rei Luís XIII da França usava uma peruca que ia até os ombros.
Na década de 1660, o rei Carlos II da Inglaterra, passou a adotar a peruca por ser mais fácil de mantê-la limpa e assim evitar o problema das pulgas. Mas, durante o reinado de Luís XIV na França (o Rei Sol;1638-1715), a peruca foi alçada a uma dimensão inédita, que em algumas gerações contribuiria para selar o destino da monarquia francesa.
Luís XIV mudou a corte da superlotada, suja e turbulenta Paris para a extraordinária Versalhes. Foi ali que o Rei Sol desenvolveu um complexo protocolo baseado na moda e na ostentação de riqueza. Sua intenção era impedir a sublevação entre a alta nobreza da França, mantendo os nobres por perto e ocupados, dissipando sua riqueza em luxos em vez de tramar sua derrubada. Não poderia ter sido mais bem-sucedido. Isolada do mundo, a elite francesa perdeu contato com a realidade durante os reinados do filho e do neto do Rei Sol: Luís XV e o malfadado Luís XVI.
No final do século XIX, as perucas masculinas foram reduzidas a um tamanho mais prático, com os característicos cachos do lado e o rabo de cavalo pra trás, e eram empoadas. Mas com a ascensão da rainha Maria Antonieta, que subiu ao trono com seu marido Luís XVI em 1775, as perucas tornaram-se estratosféricas.
Na nova rainha, nascida na Áustria, os estilistas, cabeleireiros, joalheiros e fabricantes de perucas de Paris encontraram um apetite pelo excesso, pelo luxo e pela novidade. A corte só percebeu tarde demais que seus excessos haviam alienado ainda mais a população francesa. Apesar de uma tentativa derradeira da rainha de moderar seu estilo, incluindo a peruca, o governo monárquico absolutista foi derrubado em 1789, e o casal real perdeu a cabeça na guilhotina em 1793. Apropriadamente, Maria Antonieta usava nos cabelos apenas uma simples touca.Na foto abaixo, podemos ver o gosto extravagante de Maria Antonieta.
As perucas associadas à ostentação do governo do Rei Sol, saíram de moda no século XIX. Sobreviveram apenas as do traje formal de juízes e advogados no sistema judiciário e no Parlamento britânico. Mesmo assim, muitos ingleses modernos espelharam-se nos dizeres do presidente Thomas Jefferson(1743-1826): "Pelo amor de Deus, desfaçam-se da peruca monstruosa que faz os juízes ingleses parecerem ratos espiando por trás de montes de estopa".
segunda-feira, 16 de maio de 2016
O pão liquido e a história
Há um líquido, para muitos precioso, de sabor amargo, socializante, extremamente refrescante e com elevado valor nutricional que acompanha a humanidade há milênios. Este líquido conheceu as pirâmides egípcias, estando presente ativamente quando das suas construções, teve grande importância social durante o período de crescimento dos povos da Mesopotâmia e sociedade babilônica, perdendo um pouca a força nos períodos das Civilizações Grega e Romana, recuperando-a, porém, na Idade Média e estando presente ativamente na economia, mesas, lares e momentos de risos, alegrias e tristezas da sociedade atual. Falo da cerveja, bebida histórica e que acompanha o homem, comprovadamente, desde a Idade Antiga.
É sabido que o homem pré histórico abandonou a vida nômade a partir do surgimento das primeiras técnicas de agricultura. Com o fenômeno da sedentarização decorrente do avanço das técnicas agrícolas, surgiram na Ásia Ocidental, por volta de 9000 a 8000 A.C. os primeiros campos de cultura de cereais, os quais, após colhidos, eram transformados em farinha e, posteriormente em pão. Por ser um processo cheio de etapas mais complexas e com peculiaridades próprias,provavelmente a fabricação da cerveja aconteceu num segundo momento. Na verdade, é bastante provável que a "descoberta" da cerveja deu-se por acaso, apesar da relação direta existente entre ela e o pão, pois ambas são frutos da união de grãos, água e fermento, além de possuírem o mesmo valor nutricional. Os registros históricos que, em tese, comprovam essa teoria são rudimentares e não definitivos, pois tratam-se de desenhos rupestres que simbolizam a fabricação de uma bebida, no mínimo, semelhante a cerveja.
Outra referência histórica que nos mostra a importância da cerveja junto aos povos da Mesopotâmia está presente no Código de Hamurabi, escrito por volta de 1730 a.c, pois um de seus artigos previa o afogamento do mestre cervejeiro na sua própria bebida caso a mesma não tivesse condições de consumo. Outro artigo previa pena de morte para sacerdotes encontrados em bares, além do mestre cervejeiro ser dispensado do serviço militar.
Durante o período da Civilização Grega, os egípcios foram os responsáveis pela apresentação da cerveja aos gregos, Porém, a bebida não era muito bem aceita. Mesmo assim a cerveja teve seus pontos altos, como, por exemplo, o uso dela pelo médico grego Pedáneo Dioscórides, que a receitava como diurético para alguns tratamentos médicos.
Com os romanos também não foi muito diferente, já que eram apreciadores e produtores de vinho, e sendo povo conquistador na época, impunha suas predileções e costumes perante os conquistados. Com isso, naturalmente a cerveja foi perdendo sua popularidade em prol do vinho, bebida identificada com costumes e tradições romanas. Entretanto, por ser além de mais abundante e barata, a cerveja foi aos poucos tornando-se novamente uma bebida popular, amplamente consumida pelas classes mais pobres e principalmente pelos estrangeiros, os chamados Bárbaros. O crescente consumo da bebida entre os romanos e a decorrente dominação dela no mercado, ocasionou graves problemas de suprimento de trigo e, por consequência, inflação. Tanto que o imperador Tito Flávio (51-96), proibiu o cultivo de uva nos locais onde pudessem se cultivados cereais. Já em 301, o imperador Valério Dioclesiano (245-313) publicou o "Edictum de Pretiis Rerum Venalium" que tabelava o preço de vários produtos, entre os quais a cevada, trigo e a cerveja, cuja distinção entre "cerivisia" (cerveja da Gália) e "zythos" (cerveja Egípcia) era evidente.
Foi a partir da Idade Média que a cerveja passou a ser produzida em larga escala. Numa época em que o conhecimento não era difundido, haviam pouquíssimos lugares dominantes do saber. Os mosteiros eram um desses lugares e foram os religiosos que, de fato, desenvolveram receitas e técnicas de produção em larga escala. Inclusive, foram os religiosos que introduziram a ideia de conservação a frio da bebida. As receitas eram guardadas em segredo e sua produção destinada tanto aos monges, como aos pobres, sendo vendidas em grandes quantidades aos peregrinos e camponeses da região.
Outro marco para a consolidação da cerveja como importante produto da economia da idade Medieval ocorreu durante o Império de Carlos Magno, quando este publicou no final do séc. VIII o "Capitulare de Villis", um conjunto de regras referente a administração das terras pelo Estado, no qual reconhece a atividade de cervejeiro como um artesão especializado com papel relevante na constituição dos vilarejos. Assim como era necessária a existência de de padarias, estábulos, celeiros, entre outros na organização do Estado (eram vários e cada um com estrutura própria), também era necessária neste, a existência de uma cervejaria.
As mudanças referentes ao processo de manufatura e comercialização da cerveja sofreram mudanças lentas e graduais desde o início da Idade Média até a chegada da Renascença Cultural. A crescente urbanização e o aumento natural do consumo, fizeram com que os grupos locais de fabricantes melhorassem sua técnica de fabricação e aumentassem a produção, o que gerou um interesse do negócio pelos Estados e Burgos, que acabaram regulando e assumindo a produção.
A chegada do Capitalismo trouxe novos conceitos e diferentes técnicas passaram a ser aplicadas tanto na produção como na comercialização da cerveja. A crescente urbanização provocou mudanças tanto de comportamento social como econômico e a cerveja acompanhou essas mudanças. Tanto que é produto de consumo em escala mundial e de elevada importância social e econômica.
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