Há um líquido, para muitos precioso, de sabor amargo, socializante, extremamente refrescante e com elevado valor nutricional que acompanha a humanidade há milênios. Este líquido conheceu as pirâmides egípcias, estando presente ativamente quando das suas construções, teve grande importância social durante o período de crescimento dos povos da Mesopotâmia e sociedade babilônica, perdendo um pouca a força nos períodos das Civilizações Grega e Romana, recuperando-a, porém, na Idade Média e estando presente ativamente na economia, mesas, lares e momentos de risos, alegrias e tristezas da sociedade atual. Falo da cerveja, bebida histórica e que acompanha o homem, comprovadamente, desde a Idade Antiga.
É sabido que o homem pré histórico abandonou a vida nômade a partir do surgimento das primeiras técnicas de agricultura. Com o fenômeno da sedentarização decorrente do avanço das técnicas agrícolas, surgiram na Ásia Ocidental, por volta de 9000 a 8000 A.C. os primeiros campos de cultura de cereais, os quais, após colhidos, eram transformados em farinha e, posteriormente em pão. Por ser um processo cheio de etapas mais complexas e com peculiaridades próprias,provavelmente a fabricação da cerveja aconteceu num segundo momento. Na verdade, é bastante provável que a "descoberta" da cerveja deu-se por acaso, apesar da relação direta existente entre ela e o pão, pois ambas são frutos da união de grãos, água e fermento, além de possuírem o mesmo valor nutricional. Os registros históricos que, em tese, comprovam essa teoria são rudimentares e não definitivos, pois tratam-se de desenhos rupestres que simbolizam a fabricação de uma bebida, no mínimo, semelhante a cerveja.
Outra referência histórica que nos mostra a importância da cerveja junto aos povos da Mesopotâmia está presente no Código de Hamurabi, escrito por volta de 1730 a.c, pois um de seus artigos previa o afogamento do mestre cervejeiro na sua própria bebida caso a mesma não tivesse condições de consumo. Outro artigo previa pena de morte para sacerdotes encontrados em bares, além do mestre cervejeiro ser dispensado do serviço militar.
Durante o período da Civilização Grega, os egípcios foram os responsáveis pela apresentação da cerveja aos gregos, Porém, a bebida não era muito bem aceita. Mesmo assim a cerveja teve seus pontos altos, como, por exemplo, o uso dela pelo médico grego Pedáneo Dioscórides, que a receitava como diurético para alguns tratamentos médicos.
Com os romanos também não foi muito diferente, já que eram apreciadores e produtores de vinho, e sendo povo conquistador na época, impunha suas predileções e costumes perante os conquistados. Com isso, naturalmente a cerveja foi perdendo sua popularidade em prol do vinho, bebida identificada com costumes e tradições romanas. Entretanto, por ser além de mais abundante e barata, a cerveja foi aos poucos tornando-se novamente uma bebida popular, amplamente consumida pelas classes mais pobres e principalmente pelos estrangeiros, os chamados Bárbaros. O crescente consumo da bebida entre os romanos e a decorrente dominação dela no mercado, ocasionou graves problemas de suprimento de trigo e, por consequência, inflação. Tanto que o imperador Tito Flávio (51-96), proibiu o cultivo de uva nos locais onde pudessem se cultivados cereais. Já em 301, o imperador Valério Dioclesiano (245-313) publicou o "Edictum de Pretiis Rerum Venalium" que tabelava o preço de vários produtos, entre os quais a cevada, trigo e a cerveja, cuja distinção entre "cerivisia" (cerveja da Gália) e "zythos" (cerveja Egípcia) era evidente.
Foi a partir da Idade Média que a cerveja passou a ser produzida em larga escala. Numa época em que o conhecimento não era difundido, haviam pouquíssimos lugares dominantes do saber. Os mosteiros eram um desses lugares e foram os religiosos que, de fato, desenvolveram receitas e técnicas de produção em larga escala. Inclusive, foram os religiosos que introduziram a ideia de conservação a frio da bebida. As receitas eram guardadas em segredo e sua produção destinada tanto aos monges, como aos pobres, sendo vendidas em grandes quantidades aos peregrinos e camponeses da região.
Outro marco para a consolidação da cerveja como importante produto da economia da idade Medieval ocorreu durante o Império de Carlos Magno, quando este publicou no final do séc. VIII o "Capitulare de Villis", um conjunto de regras referente a administração das terras pelo Estado, no qual reconhece a atividade de cervejeiro como um artesão especializado com papel relevante na constituição dos vilarejos. Assim como era necessária a existência de de padarias, estábulos, celeiros, entre outros na organização do Estado (eram vários e cada um com estrutura própria), também era necessária neste, a existência de uma cervejaria.
As mudanças referentes ao processo de manufatura e comercialização da cerveja sofreram mudanças lentas e graduais desde o início da Idade Média até a chegada da Renascença Cultural. A crescente urbanização e o aumento natural do consumo, fizeram com que os grupos locais de fabricantes melhorassem sua técnica de fabricação e aumentassem a produção, o que gerou um interesse do negócio pelos Estados e Burgos, que acabaram regulando e assumindo a produção.
A chegada do Capitalismo trouxe novos conceitos e diferentes técnicas passaram a ser aplicadas tanto na produção como na comercialização da cerveja. A crescente urbanização provocou mudanças tanto de comportamento social como econômico e a cerveja acompanhou essas mudanças. Tanto que é produto de consumo em escala mundial e de elevada importância social e econômica.
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