quarta-feira, 18 de maio de 2016

A peruca e o fim do reino

       Na mentalidade humana, cabelos bonitos, status e poder estão intimamente ligados. Por exemplo, desde os tempos mais remotos, os homens consideram cabelos ondulantes como sinal de divindade e realeza. No Egito, na Assíria e na Persa, o rei e seus cortesãos usavam perucas elaboradas nos eventos de Estado. Associações estreitas entre poder, virilidade e cabelos levaram os gregos e romanos antigos quase calvos a adotar perucas e apliques. Um ilustre usuário de peruca foi ninguém menos que Júlio César. 
        Com a queda do Império Romano do Ocidente, as perucas sumiram da história europeia por um milênio.
         O uso ressurgiu no século XVI nas cortes reais do norte da Europa. A rainha Elizabeth I (na foto abaixo) da Inglaterra usava uma peruca vermelha bem anelada no estilo "romano" para substituir seus próprios cabelos brancos e ralos, e o rei Luís XIII da França usava uma peruca que ia até os ombros. 

Na década de 1660, o rei Carlos II da Inglaterra, passou a adotar a peruca por ser mais fácil de mantê-la limpa e assim evitar o problema das pulgas. Mas, durante o reinado de Luís XIV na França (o Rei Sol;1638-1715), a peruca foi alçada a uma dimensão inédita, que em algumas gerações contribuiria para selar o destino da monarquia francesa.
Luís XIV mudou a corte da superlotada, suja e turbulenta Paris para a extraordinária Versalhes. Foi ali que o Rei Sol desenvolveu um complexo protocolo baseado na moda e na ostentação de riqueza. Sua intenção era impedir a sublevação entre a alta nobreza da França, mantendo os nobres por perto e ocupados, dissipando sua riqueza em luxos em vez de tramar sua derrubada. Não poderia ter sido mais bem-sucedido. Isolada do mundo, a elite francesa perdeu contato com a realidade durante os reinados do filho e do neto do Rei Sol: Luís XV e o malfadado Luís XVI.
         No final do século XIX, as perucas masculinas foram reduzidas a um tamanho mais prático, com os característicos cachos do lado e o rabo de cavalo pra trás, e eram empoadas. Mas com a ascensão da rainha Maria Antonieta, que subiu ao trono com seu marido Luís XVI em 1775, as perucas tornaram-se estratosféricas.
         Na nova rainha, nascida na Áustria, os estilistas, cabeleireiros, joalheiros e fabricantes de perucas de Paris encontraram um apetite pelo excesso, pelo luxo e pela novidade. A corte só percebeu tarde demais que seus excessos haviam alienado ainda mais a população francesa. Apesar de uma tentativa derradeira da rainha de moderar seu estilo, incluindo a peruca, o governo monárquico absolutista foi derrubado em 1789, e o casal real perdeu a cabeça na guilhotina em 1793. Apropriadamente, Maria Antonieta usava nos cabelos apenas uma simples touca.Na foto abaixo, podemos ver o gosto extravagante de Maria Antonieta.

         As perucas associadas à ostentação do governo do Rei Sol, saíram de moda no século XIX. Sobreviveram apenas as do traje formal de juízes e advogados no sistema judiciário e no Parlamento britânico. Mesmo assim, muitos ingleses modernos espelharam-se nos dizeres do presidente Thomas Jefferson(1743-1826): "Pelo amor de Deus, desfaçam-se da peruca monstruosa que faz os juízes ingleses parecerem ratos espiando por trás de montes de estopa".











3 comentários:

  1. Mas o que é essa peruca da Maria Antonieta. Extravagante é pouco.

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  2. Mas o que é essa peruca da Maria Antonieta. Extravagante é pouco.

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  3. O chumbo em suas maquiagens os faziam calvos precocemente, a realeza e os nobres eram os mais atingidos pela falta de cabelos

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